Postagens

Carta 7

Queride leitore,       Desejo a você, antes de qualquer verbo solto nessa folha, uma excelente passagem pelo portal magnífico dos anos. Essa celebração que envolve uma magia de um dia para o outro é linda, apesar das expectativas.     (...)

Carta 8

Querido leitor,      É como se todo o mundo fosse uma faísca incrível de novidades, movimento, coisas incríveis e imperdíveis. É como se eu estivesse num espiral de dar conta de ver, absorver, responder, compreender e entregar tudo. Tudo o que eu preciso e o que quero, querem, queremos. Não é justo. Por quê não consigo acompanhar o fluxo interminável de energia, possibilidades e alegria? Por quê no fim do dia eu não consigo nem trazer felicidade a mim no tempo que programei para ser feliz?     Não sei se quis abraçar o mundo com braços, pernas e uma cauda imaginária que criei para mim. As outras pessoas parecem desempenhar essa vida maluca com tanta precisão? Ou é o que elas mostram? Que maldita era é essa em que ninguém consegue dizer a verdade sobre esse buraco oco que cresce dentro de nossos peitos?     Pera. Só há isso em mim?     Não é como se eu odiasse tudo que eu escolhi para viver. Mas por quê é tão doloroso o processo de chegar em algum ponto melhor da vida? Por quê eles nos

Carta 6

 De: Alguém que precisa transbordar o ordinário e cotidiano Para: Algum desocupado ocasionalmente interessado em ler. *** Caro leitor,      Gravei seu nome escrito no crachá na tentativa de ter algum tipo de laço. Um observador atento, imaginativo. Simplesmente você era muito linda, em todo seu sono e tédio do ônibus. O cabelo cacheado como uma nuvem macia feita de chocolate, os olhos esverdeados vagando pelo horizonte azul da baía. O estilo alternativo combinando com as curvas de seu corpo. Um vislumbre de um livro atual ao buscar um lanchinho na bolsa.       Fiz uma história em minha mente. Não que eu estivesse presente nela; isto não se trata de uma admiração amorosa. Contemplei a cena como um narrador presente, ansioso por ser onisciente. Quis imaginar um possível microcosmo para a sua vida, não sabendo se é fidedigno ou não.        Na minha mente, és imponente. Uma pessoa dona de si. Vi no mesmo crachá, assistente social em um hospital de câncer. Por amor e cuidado ao próximo ou p

Carta 5

De: Alguém que precisa transbordar o ordinário e cotidiano Para: Algum desocupado ocasionalmente interessado em ler. *** Caro leitor,     Sinto muito pelos frangalhos em que esta carta se encontra. Nesse mísero papel descontei a raiva que mora em meu peito nesse momento. Não queria ter que descontar mundo a fora nem sobre quem, de fato, mereceria sentir a ira de meus olhos.       Não. Não sou uma pessoa de devolver no mesmo lado da moeda. Mesmo que seja um ódio dilacerante, que instiga a úlcera em meu estômago, faz as lágrimas salgarem meu rosto à força... Eu não quero. Não quero fazer alguém passar pelo que me queima o cérebro.     É uma raiva que vem da injustiça dos acontecimentos. A raiva de ter que ver o ego falando mais uma vez por cima de tudo. A raiva de ver que não há mais quem ceda nas situações.     Mentira, há sim.      É a raiva do cansaço de ceder sempre. É a raiva de sentir o calo apertar sob o meu coturno e não sob os pés descalços de outrem. É a raiva de saber que atrá

Carta 4

De: Alguém que precisa transbordar o ordinário e cotidiano Para: Algum desocupado ocasionalmente interessado em ler. *** Caro leitor,       Dedico meu afeto hoje ao amor de minha vida. Não a vida da maneira idealizada, mas a vida de todo dia. O amor de minha vida é real, imperfeito, difícil de entender e que deixa tudo em silêncio em um abraço. É controverso como todas as questões que me ocupam a mente. Olho pra frente e vejo um homem entregue à vida, seus vícios, lutas e méritos. Há beleza nisso, bem como em seus olhos âmbar.       Talvez essa seja a carta mais difícil de escrever. É um emaranhado de sentimentos e pensamentos que desembolar tudo isso demanda uma força tremenda. Falar do amor de sua vida, real e cotidiano, é tão cru quanto a carne sob nossas peles. É tão natural como acordar todas as manhãs. É tão difícil quanto arrancar seu coração com as unhas.      Ele é selvagem. Uma fera que se adestra como deseja. Eu o amo, eu sei disso. Mas eu também teria motivos pra odiá-lo e

Carta 2

De: Alguém que precisa transbordar o ordinário e cotidiano Para: Algum desocupado ocasionalmente interessado em ler. *** Caro leitor,      É complexo quando se vem de uma infância de inseguranças consigo para uma "adultice" autoconfiante. Às vezes tenho um momento comigo frente ao espelho, encarando a confiança que pinto em minha pele antes de sair de casa. Não é um processo fácil impôr a mim mesma sendo que eu tive que entender que não há nada de errado nisso. Há um eco em mim que assombra meus ossos e diz que nada que eu faça será suficiente, eles não vão gostar de mim.      Pera, quê?! Eles?!      Sim. Os terceiros aos quais eu nunca dei a mínima mas que sim, no fundo eu me importo, dependendo de quem for. Complexo. Mas é, eu cresci querendo as migalhas emocionais que me davam. Nada saudável.      Hoje eu entendo e faço o lembrete diário de auto valor. Contudo em certas esquinas esbarro cara-a-cara com meu eu passado, a pequena criatura que não suportava olhar a si mesma n

Carta 1

De:  A lguém que precisa transbordar o ordinário e cotidiano Para: Algum desocupado ocasionalmente interessado em ler. *** Caro leitor,      Isso não se trata de uma piadinha ou algum tipo de experimento. Apenas constatei, pela milésima vez nessa existência, que escrever era o que me restava para dar conta do que eu não consigo segurar. A vida é um caos orquestrado e disso todos nós sabemos.       Não espere que eu dê uma trama completa ou mensagens completamente coerentes. Há um narrador completamente não confiável e caótico por trás dessas palavras. Minha alma desde cedo sabia que o que há de obscuro e trevoso me atrairia. O tempo me trouxe a confiança e o foda-se que eu precisava para deixar o mundo saber disso.      Bom. Como toda alma vivida, há erros, acertos e nomes marcados na minha bagagem. Tudo bem, eu não tenho ressentimento disso. Aliás, não gosto nem de me lembrar dessas coisas. Elas moram no passado pelo seu belo motivo de serem lembretes para momentos futuros.      Hoje