Carta 2

De: Alguém que precisa transbordar o ordinário e cotidiano

Para: Algum desocupado ocasionalmente interessado em ler.

***

Caro leitor, 

    É complexo quando se vem de uma infância de inseguranças consigo para uma "adultice" autoconfiante. Às vezes tenho um momento comigo frente ao espelho, encarando a confiança que pinto em minha pele antes de sair de casa. Não é um processo fácil impôr a mim mesma sendo que eu tive que entender que não há nada de errado nisso. Há um eco em mim que assombra meus ossos e diz que nada que eu faça será suficiente, eles não vão gostar de mim. 
    Pera, quê?! Eles?! 
    Sim. Os terceiros aos quais eu nunca dei a mínima mas que sim, no fundo eu me importo, dependendo de quem for. Complexo. Mas é, eu cresci querendo as migalhas emocionais que me davam. Nada saudável. 
    Hoje eu entendo e faço o lembrete diário de auto valor. Contudo em certas esquinas esbarro cara-a-cara com meu eu passado, a pequena criatura que não suportava olhar a si mesma no espelho, quiçá ousava dirigir a palavra aos outros sem morrer por dentro. Entender que hoje sou quem eu apreciava quando menor é um conforto, não posso negar. Mas ao mesmo tempo as autocríticas na versão atualizada aparecem, latentes e afiadas, olhando para o corpo, as rugas, curvas, rotina, conta bancária, currículo.   
    Ser humano dói, principalmente quando de dentro pra fora. Nada supera o peso que convencem a nós de pormos, voluntariamente, em nossos ombros. E entender isso é como ver uma luz em um buraquinho dos tijolos de um ambiente fechado; é como descobrir que o sol esteve sempre ao lado e nós apenas não nos levantamos pra ver. 
    Nesse vômito de sentimentos eu sinto que o gosto é da frustração. Eu preciso seguir a cura, em seu movimento angulado e eterno. Eu preciso manter a rotina, pra não me perder de mim, até porque não sou o que dizem de mim. Eu sou o que sei que sou e quero ser. O que me auto nomeio e o que permito ser através do espelho.  
    Mas... Até que ponto eu tenho controle sobre isso?


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